"Apetites Estranhos" é o nome do restaurante no qual combinou encontrar-se com o seu ex. Uma ironia consciente, escolhido a dedo pela sua amarga semântica. Na verdade, ele nunca lá tinha estado, neste lugar e naquele restaurante. Lugar estranho, no qual o seu coração não consegue pulsar, em vez disso, é o seu externo que com o respirar o aperta e solta, como quem vive porque não consegue morrer, para quem os dias são umas extensão de uma dor que nos apatiza .
O restaurante, vulgar, sem expressão, uma mistura entre café, tasca e sala de chá. Estranho sim, como se não se quisesse assumir como coisa alguma, reforçando a ideia este era o espaço certo, para uma conversa que nunca deixou ter.
Junto a uma janela que dava para o logradouro do edifício, numa mesa pequena, com área suficiente para se sentarem duas pessoas frente a frente, encontra-se Luis. "Luis", murmura ele, reflectindo sobre o facto de sempre o ter tratado desta forma, sem o "O", uma sintaxe que revela o seu medo em assumir o que sente, distanciando a pessoa de si, reforçado a sua condição de terceira pessoa. "Quem será a segunda pessoa?"
Hesita ao dirigir-se para a mesa, mas Luis encontra-o no seu olhar, aquele mesmo olhar profundo que o penetrou, no dia em que se conheceram. No entanto, notou que algo estava diferente, pois a direcção dos olhos de Luis abruptamente tornou-se indefinida, fintado ao mesmo tempo o infinito e a chávena de café que se encontrava à sua frente. "Tempo infinito", pensou e esboçou um tímido sorriso, "Bom nome para um café...".
No comments:
Post a Comment