Thursday, August 19, 2010

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Ainda bem que chegaste bem e que Africa te recebeu de braços abertos, alias, tenho a certeza que a situação do teu quarto de hotel foi uma forma subtil de Ela te dizer que ainda não te podias refugiar no teu novo cantinho, pois as gentes desse país estavam ansiosas em mostrar-te a sua hospitalidade.

Por aqui continua tudo na mesma, o calor sente-se logo pela manhã, as pessoas queixam-se, as florestas ardem, e os políticos...esses continuam a gozar as suas férias, imperturbáveis. Esta semana o pais voltou á febre do futebol, o que para mim é excelente, assim quando o benfica, o porto ou o sporting jogam surgem aqueles momentos perfeitos para ir ou à praia, ou passear nas ruas, eu e a minha solitude, juntos, gozando o verão sem qualquer confusão!

Sei que tudo o que escrevo nada se pode comparar ao que deves estar a viver nesse "outro lado do planeta", mas espero que as minhas palavras te tragam por instantes mais perto desta nossa varanda para o atlântico.

Boa viagem e espero ver-te no Outono.
Luis

Friday, August 13, 2010

Boa viagem

Atravessas o mundo à procura do teu lugar,
Lugar que lentamente te envolve o coração,
Coração que procura uma nova batida,
Batida que ainda sente o calor de alguém.

Agora o Tempo que nasce no oceano,
Entregue à Terra num pano de estrelas,
Desenha um novo horizonte só para ti,
Que contigo caminha sem ter fim.

Partes sem ter que fugir,
Sorris sem ter que pensar,
O mundo oferece-te aquele lugar,
Lugar que nunca deixou de ser teu.

Thursday, August 12, 2010

Apenas uma direcção.

Viram-se as páginas, trocam-se as caras,
Olha-se o mar, mudam-se as marés,
Nascem corações, morrem emoções,
Expressões curtas, movimentos incertos.

A regra é nunca olhar para trás,
O jogo ganha-se sempre amanhã,
Perde-se quando nos lembramos de nós,
Dura o tempo que aguentarmos.

Vale tudo menos pensar duas vezes,
A moral é de quem sabe sangrar
A vantagem que esconde as lágrimas
O medo daqueles que sabem...

Tuesday, August 10, 2010

Neste mar negro, sem ecos, e sem reflexos, consigo expor toda a descontinuidade que transpira por mim. É fácil, ser-se quando ninguém nos consegue encontrar, é como entregar uma carta numa casa que sabemos estar vazia.
Não sofro por isso, faz parte da minha condição de ser peculiar, até à data todas a pessoas que escutaram durante demasiado tempo à minha forma de pensar, ou assustaram-se, ou fugiram, ou simplesmente passaram a ignorar-me. Mas como disse, não me sinto incomodado. Eu compreendo que é extremamente dificil seguir os meus raciocínios, sem um fio condutor, preocupados não com uma lógica, ou objectivo. Antes, tenho a tendência que subverter a linearidade da discussão, fugir de simplificações, subtracções. Gosto de desafiar o preconceito, desmembrar o conceito, anular a semântica.

O que de facto me angustia, é o estado de resignação da maioria das pessoas. Deslocam-se do ponto A para o ponto B, a meio do caminho, fazem uma pausa para ter um filho, beber um copo, e ver a mãe morrer. E apesar de toda a sua apatia, acreditam com uma fé cega, que as suas preocupações pelo mundo são genuínas, dormindo bem com as suas consciências.

Eu não tenho ilusões, não dormo bem com a minha consciência, alias a maior parte dos dias mal consigo dormir. De novo, não é isto que me faz perder o meu sorriso, alguma energia sim. Assumo a minha falta de força de vontade para conseguir alterar o mundo à minha visão de "tudo melhor". De facto, gostava de conseguir "estar" apenas no pedaço de terra em que sei puder cultivar alguma coisa. Mas o Ego é um parasita com um apetite voraz. Se consegue engolir 2, no dia seguinte quererá mastigar 8.

E assim, vou andando aos círculos algures entre o A e B, vendo os outros passar por mim, sabendo que, mais cedo ou mais tarde, um dia estarei a caminhar sozinho.

Monday, August 09, 2010

Breves #2

"Apetites Estranhos" é o nome do restaurante no qual combinou encontrar-se com o seu ex. Uma ironia consciente, escolhido a dedo pela sua amarga semântica. Na verdade, ele nunca lá tinha estado, neste lugar e naquele restaurante. Lugar estranho, no qual o seu coração não consegue pulsar, em vez disso, é o seu externo que com o respirar o aperta e solta, como quem vive porque não consegue morrer, para quem os dias são umas extensão de uma dor que nos apatiza .
O restaurante, vulgar, sem expressão, uma mistura entre café, tasca e sala de chá. Estranho sim, como se não se quisesse assumir como coisa alguma, reforçando a ideia este era o espaço certo, para uma conversa que nunca deixou ter.
Junto a uma janela que dava para o logradouro do edifício, numa mesa pequena, com área suficiente para se sentarem duas pessoas frente a frente, encontra-se Luis. "Luis", murmura ele, reflectindo sobre o facto de sempre o ter tratado desta forma, sem o "O", uma sintaxe que revela o seu medo em assumir o que sente, distanciando a pessoa de si, reforçado a sua condição de terceira pessoa. "Quem será a segunda pessoa?"
Hesita ao dirigir-se para a mesa, mas Luis encontra-o no seu olhar, aquele mesmo olhar profundo que o penetrou, no dia em que se conheceram. No entanto, notou que algo estava diferente, pois a direcção dos olhos de Luis abruptamente tornou-se indefinida, fintado ao mesmo tempo o infinito e a chávena de café que se encontrava à sua frente. "Tempo infinito", pensou e esboçou um tímido sorriso, "Bom nome para um café...".

Sunday, August 08, 2010

The Ballroom

Quem diz que a Terra tem uma rotação normal está mentir. Os dias não têm todos 24 horas, as horas não são todas iguais. O universo move-se ao som de uma valsa ditada pelos compassos que a vida impõe. Mudanças de direcção que transformam um dia de sol, numa noite fria ventosa. Uma semana amarga e interminável, num fim de semana que corre a uma velocidade alucinante.
Tudo isto é controlado pelas batidas cardíacas, a outra grande dissimulação da medicina contemporânea. Ao contrário do que os médicos nos querem convencer, o coração não é uma máquina extremamente afinada. Antes, é uma esfera amorfa que, pulsa, desliga-se, acelera, rebenta, endurece e o morre inúmeras vezes durante a vida de um individuo. É um gerador sensível que dita as leis do universo, a velocidade da valsa da vida, a temperatura do planeta, e a capacidade viver de cada ser.

Quem dança comigo?